Participantes

  • Amanda Queiroz Moura (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Catherrine Thiene Rossini (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Claudia Regina Boen Frizzarini (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Elielson Sales (Doutorando em Educação Matemática A imagem no ambiente informatizado enquanto elemento facilitador para o ensino de geometria com criança surda)
  • Elizabete Leopoldina da Silva (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Eloísa Jussara de Souza Silva (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Lessandra Marcelly (Doutoranda em Educação Matemática)
  • Miriam Godoy Penteado (Coordenadora)
  • Renato Marcone (Doutorando em Educação Matemática)
  • Vanessa Cintra (Doutoranda em Educação Matemática)

domingo, 14 de junho de 2009

Matéria sobre Dorina Nowill

Caderno cotidiano - Jornal Folha de São Paulo, 14 de junho de 2009

Aos 90, Dorina continua a lutar pelos deficientes visuais Cega desde os 17, a paulistana foi a idealizadora da Fundação Dorina Nowill para cegos, a maior entidade filantrópica da área no país

LINA DE ALBUQUERQUE
DA REVISTA DA FOLHA

Ela nunca escolhia, era sempre escolhida. Por causa de um golpe de vista infalível e de uma agilíssima coordenação motora, as jogadoras de barrabol -antigo campeonato que tem parentesco com o popular queimado jogado nas escolas- disputavam para ter Dorina Nowill no time.
Mas quando perdeu a visão, aos 17 anos, o interesse de Dorina pelo barrabol já havia sido trocado pelos bailes e pelos flertes com os rapazes que conhecia no caminho do externato Elvira Brandão, então um dos mais tradicionais da cidade de São Paulo.
A última imagem que Dorina viu na vida, em 1936, foi a fotografia de um navio do álbum de viagem de uma amiga da mãe que retornava da Europa. Depois, foi acometida por uma patologia ocular irreversível.
Hoje, aos 90 anos completados em 28 de maio, presença ativa no conselho da Fundação Dorina Nowill para Cegos, a maior entidade filantrópica na área do país, ela virou o jogo da história dos deficientes visuais brasileiros.
"As pessoas me perguntam se eu senti o meu mundo desabar quando perdi a visão. Não. Eu apenas me senti cega", diz Dorina, que conheceu o marido, o advogado Edward Hubert Alexander Nowill, hoje com 87 anos, nos EUA, quando estudava na Universidade Columbia como bolsista de uma fundação voltada para educação e reabilitação de cegos. Eles se casaram em 1950 e tiveram cinco filhos e 12 netos.
Foi a primeira aluna cega que frequentou um curso regular, na Escola Normal Caetano de Campos, bem antes de a palavra "inclusão" ter entrado para o dicionário politicamente correto das deficiências.
Depois, como queria ler e havia poucos livros transcritos na linguagem dos cegos no Brasil, criou -junto de um grupo de oito normalistas do Caetano de Campos, nenhuma delas cegas- o primeiro curso de alfabetização e educação especial para cegos da América Latina, dentro de uma escola de formação de professores.
Em seguida, conquistou o apoio de voluntários da Cruz Vermelha para começar a traduzir as primeiras grandes obras da literatura em braile. Assim, uma década após ter perdido a visão, nascia a Fundação Padre Chico, mais tarde convertida, em sua homenagem, na Fundação Dorina Nowill para Cegos.

Cegueira rara
Dorina passou muito mais anos vivendo sem enxergar. Sua patologia é extremamente rara e ela nunca teve conhecimento, nas centenas de congressos dos quais participou em diversos países, de nenhum caso parecido. A causa que provocou um derrame nas suas retinas continua desconhecida.
Na esperança de voltar a enxergar, submeteu-se a diversas cirurgias. Tudo em vão. O pouco que se sabe é que se fixou sangue em suas retinas provavelmente após um rompimento de vasos.
Apesar da ausência da visão, Dorina é pródiga em narrativas detalhistas, coloridas, extremamente visuais. "Ela é capaz de enxergar dentro das coisas", compara o artista Gustavo Rosa, que pintou um retrato de presente para ela, entregue na festa dos 90 anos.
As imagens que a aniversariante guardou em sua prodigiosa memória remetem a uma São Paulo da década de 1930. Tempo em que a modernidade em transporte coletivo atendia pelo nome de "camarão", em alusão ao bondinho vermelho que sacolejava pelas sossegadas ruas de São Paulo.
A noventona é assumidamente vaidosa. Nunca compra uma roupa sem que lhe descrevam minuciosamente os detalhes e três vezes por semana, acompanhada da sua personal trainer, dá quatro voltas na praça perto da sua casa no Alto de Pinheiros.
Três vezes por semana também, Dorina continua dando expediente na fundação.
Uma das 26 personagens do livro "Recomeços" (ed. Saraiva, 160 págs., R$ 29), que reúne depoimentos de pessoas que enfrentaram mudanças significativas em suas vidas, Dorina marca posição sobre o uso do diminutivo na abordagem de portadores de deficiência. Quando era presidente do conselho da União Mundial dos Cegos, viajava com frequência. Em uma viagem, a aeromoça insistia para que ela aceitasse um "chazinho" ou uma "aguinha". Dorina recusou as ofertas no tom infantilizado e pediu um uísque. Mesmo imaginando os olhos arregalados da aeromoça, completou: "Duplo".

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