Participantes

  • Amanda Queiroz Moura (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Catherrine Thiene Rossini (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Claudia Regina Boen Frizzarini (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Elielson Sales (Doutorando em Educação Matemática A imagem no ambiente informatizado enquanto elemento facilitador para o ensino de geometria com criança surda)
  • Elizabete Leopoldina da Silva (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Eloísa Jussara de Souza Silva (Licenciatura em Matemática - Unesp)
  • Lessandra Marcelly (Doutoranda em Educação Matemática)
  • Miriam Godoy Penteado (Coordenadora)
  • Renato Marcone (Doutorando em Educação Matemática)
  • Vanessa Cintra (Doutoranda em Educação Matemática)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Novos recursos para inclusão

Iniciativas que beneficiam os portadores de necessidades especiais, nas áreas de educação, saúde, acessibilidade e orientação para o mercado de trabalho...


Inclusão multidisciplinar
MEC seleciona Departamento de Educação Especial de Marília para oferecer curso de especialização sobre atendimento de alunos portadores de deficiência

Um grupo de docentes do Departamento de Educação Especial da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), câmpus de Marília, acaba de ser selecionado pelo Ministério da Educação (MEC) para oferecer um curso a distância de especialização sobre o atendimento de alunos portadores de deficiência, destinado a cerca de mil professores de escolas públicas de todo o País.

O curso semipresencial será ministrado durante 18 meses, em conjunto com outras duas universidades públicas. “Tal experiência possibilitará aos docentes estender seus conhecimentos e experiências, por meio de material on-line, para disseminação da educação especial”, informa Anna Augusta Sampaio de Oliveira, coordenadora do curso.

A equipe já possui experiência no ensino a distância de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para cerca de 700 professores de todo o País, sobre a relação com alunos surdos, coordenado pela docente Sandra Eli Martins. O mesmo curso foi ministrado para 250 professores da rede municipal de São Paulo. Ambos já estão na segunda edição. “O preparo dos professores para a educação inclusiva vive um momento ainda difícil no País, principalmente em relação à infraestrutura para realizar este trabalho”, aponta Anna.

Além do exemplo da equipe de Marília, a Unesp reúne uma ampla experiência obtida com diversos projetos de extensão e pesquisas visando à inclusão social de deficientes físicos, auditivos, visuais e mentais.

É o caso do grupo de professores da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), em Presidente Prudente. A docente Elisa Tomoe Moriya coordena dois cursos de especialização a distância com 120 horas-aula, para cerca de mil professores de todo o País. “São cursos sobre Libras e novas tecnologias que podem dar autonomia à pessoa com deficiência”, informa. As duas atividades resultam de um convênio entre a Universidade e a Secretaria de Educação Especial do MEC.

Tecnologia
– Na inclusão digital de deficientes visuais, um dispositivo eletrônico criado por pesquisadores do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), em São José do Rio Preto, verte para o braile o conteúdo da Internet, conforme o usuário passa o cursor pelo texto. Os sinais das letras do alfabeto usado pelos cegos são transmitidos em um tipo de teclado especial com pequenas hastes metálicas, que se elevam e abaixam, sendo “lidas” pelos dedos do internauta.

“O grande mérito desse sistema é o fato de dispensar o uso de impressoras especiais, que imprimem em papel grosso em braile, ou softwares conversores de textos em voz”, destaca José Márcio Machado, que desenvolveu o software com Mário Luiz Tronco. O projeto foi finalista da etapa nacional do Prêmio Santander de Ciências e Inovação, categoria Tecnologia da Informação e Comunicação, e será apresentado, em setembro, no 14th International Symposium on Applied Electromagnetics and Mechanics, em Xian, na China.

Desafiados pela dificuldade de deficientes visuais para acompanhar as aulas de Geografia na rede pública, docentes do Instituto de Biociências (IB) de Rio Claro produziram uma cartografia tátil. O material inclui desenhos em alto relevo de mapas como o do Brasil e da América do Sul, com informações em braile, além de maquetes e jogos táteis. “São iniciativas que têm contribuído significativamente para a ampliação dos conhecimentos destes alunos”, aponta Maria Isabel Castreghini de Freitas, coordenadora do projeto, que está sendo aplicado em duas escolas da região.

Já na área de ensino de Matemática, uma equipe do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), também de Rio Claro, desenvolve projetos como uma revista em quadrinhos escrita em braile, com desenhos em alto relevo. “As histórias foram adaptadas como recurso de ensino de conteúdos matemáticos para alunos com deficiência”, conta a mestranda Lessandra Marcelly Souza da Silva, autora do trabalho e professora voluntária em uma associação para valorização e inclusão de deficientes. “Nesta minha experiência, observei como os materiais pedagógicos interferem na ação educativa e contribuem de maneira significativa na aprendizagem destes estudantes”, acrescenta ela, que foi orientada pela docente Mirian Penteado, coordenadora do grupo.

Acesse: http://www.unesp.br/aci/jornal/248/capa.php

Novo decreto federal determina que crianças com deficiência frequentem as classes regulares

Crianças e adolescentes com deficiência terão que ser acolhidos nas classes regulares, determina um novo decreto federal que torna o Brasil pioneiro em inclusão educacional. Pode ser uma boa notícia para o seu filho, mesmo que ele não tenha nenhuma dificuldade física ou intelectual. Descubra por quê.

Até o fim do ano, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo vai fechar sua escola especial, que desde 1981 ensinou a ler e escrever mais de 700 crianças com deficiência intelectual - a maioria com síndrome de Down. Diferentemente do que possa parecer, essa é uma boa notícia. Trata-se de mais um passo para inserir definitivamente essas crianças na sociedade, obedecendo a uma nova lei. Promulgado no ano passado pelo governo federal, o Decreto nº 6.571 determina que alunos com necessidades educacionais especiais - com deficiência intelectual e física - sejam acolhidos em classes comuns do ensino regular, acabando de vez com as "classes especiais". Ponto para nós: o Brasil é pioneiro ao tornar lei o que em muitos países é apenas recomendação. "Em 2007, orientamos os pais dessas crianças a matricular os filhos em escolas perto de casa e nos propusemos a fazer um acompanhamento por cinco anos. Estivemos em 300 instituições conversando sobre a adaptação dos estudantes", explica a coordenadora do Serviço Educacional da Apae, Liliane Garcez.

Portanto, nos próximos anos, aumentam as chances de que crianças com e sem deficiência convivam nas escolas, sejam públicas ou privadas. Estudiosos em inclusão social no mundo inteiro vêm comprovando os benefícios que a presença dessas crianças nas classes regulares traz ao grupo. "A inclusão implica melhor qualidade de ensino para todos", afirma a professora da Unicamp Maria Tereza Égler Mantoan, fundadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade. "À medida que o docente pensar em novas propostas para esse público específico, atingirá também os 40% dos alunos com alguma dificuldade de aprendizado." Parece inacreditável, mas até recentemente era muito comum que um estudante sem nenhuma deficiência que não conseguisse se alfabetizar aos 7 anos fosse encaminhado a uma classe especial da rede pública. "Há cinco anos, essas salas viviam cheias de crianças sem deficiência alguma. Estavam lá por um fracasso escolar", alerta Daniela Alonso, psicopedagoga e especialista em inclusão.

Outro benefício prontamente identificado é o convívio com a diversidade. Na opinião de Liliane Garcez, da Apae, é na escola que aprendemos a ser cidadãos e a conviver com as diferenças. "Esse aprendizado traz grandes ganhos hoje e para o futuro. Até mesmo as empresas valorizam a inteligência emocional. Essas crianças serão profissionais mais flexíveis para lidar com opiniões diversas e respeitar o próximo", acredita ela.

Golpe no preconceito

Mesmo assim, vai ser difícil, e que ninguém duvide: o Brasil está diante de um imenso desafio educacional. As escolas terão que cultivar um novo olhar, acolhendo todos os estudantes, e combater o preconceito, que é poderoso, sobretudo na rede pública. Um estudo recém-concluído, encomendado pelo Ministério da Educação e realizado em 501 escolas públicas de todos os estados brasileiros, revelou que 96,5% dos entrevistados assumem ter algum preconceito contra alunos com necessidades especiais. Os pesquisadores encontraram até casos de tortura contra eles. "Só a convivência e a transformação da escola em local comum a todos poderão mudar esse cenário", avalia Daniela Alonso. Ela lembra que muitas vezes a resistência parte dos próprios professores que, principalmente na rede pública, já enfrentam uma infinidade de problemas, como violência, remuneração baixa e classes lotadas. Nesse cenário, a obrigação de acolher um deficiente é vista como mais uma tarefa espinhosa. "Será muito complicado mudar essa cultura de uma hora para outra, mas só com a prática os professores aprenderão a lidar com isso. Não há outra forma e todos terão que se esforçar", acredita Cláudia Dutra, secretária de educação especial do Ministério da Educação (MEC).

Existem 695 699 estudantes com necessidades especiais no Brasil, segundo o censo escolar de 2008. Cerca de 54% deles frequentam o ensino regular, um grande progresso em relação a 1998, quando 87% estavam em classes separadas dos demais. Estima-se ainda que cerca de 5% das crianças com deficiência em idade escolar estejam em casa, privados de educação e do convívio social. Para atender a todos, a lei engloba três grupos. No primeiro, estão crianças com deficiências física, mental, auditiva, visual e múltipla (duas ou mais das anteriores); no segundo, as com transtornos globais de desenvolvimento, como autismo; por fim, há as crianças com altas habilidades, antes chamadas de superdotadas. O decreto também se traduz em dinheiro. A partir de 2010, a rede pública receberá uma verba do Fundo da Educação Básica (Fundeb) para oferecer apoio complementar no contra turno - período contrário ao das aulas. "A matrícula de cada criança ou jovem da educação especial será computada em dobro, aumentando o valor per capita repassado à instituição. Isso vai possibilitar o investimento na formação de professores, na implantação de salas de recursos multifuncionais e na reformulação do espaço físico", explica Cláudia Dutra, do MEC. Segundo ela, muitas escolas já têm ou vão ganhar um professor itinerante especializado. Mas a ideia não é deixar na mão do especialista a responsabilidade pelo aluno. Cabe ao professor ensinar e integrá-lo à classe. "Ele vai fazer o que mais sabe: lecionar, não importa se a criança tem ou não deficiência", diz ela.

Voluntários cidadãos

Se a maioria das escolas públicas ainda está em fase de adaptação, algumas já fazem a inclusão há décadas e por isso se tornaram referência. É o caso da Escola Estadual Visconde de Itaúna, em São Paulo, que atende crianças com deficiência visual e intelectual em classes regulares. Os que não enxergam ou têm baixa visão possuem máquina de braile. Fazem todas as anotações na escrita dos cegos e suas provas são traduzidas para o docente. A diretora, Maria Angélica Cardelli, constata que os que têm deficiência intelectual se desenvolvem melhor numa classe regular. "Temos vários jovens que completaram o ensino médio e estão no mercado de trabalho. Os casos mais graves aprendem dentro do seu limite e se socializam. O que importa é a felicidade", afirma. Na hora do recreio da Escola Estadual Lasar Segall, em São Paulo, veem-se estudantes com deficiência auditiva e ouvintes se comunicando em libras, sigla para Língua Brasileira de Sinais. Abrimos oficinas de libras para os próprios colegas ouvintes e, para nossa surpresa, a classe ficou lotada", revela a professora Andréa Bast. Hoje o Lasar Segall conta com 20 intérpretes voluntários. Alguns terminam o curso e voltam como cidadãos para auxiliar os alunos surdos. "A ajuda está longe da piedade. São jovens da mesma idade que querem se comunicar com o outro."

As instituições particulares, com know-how consolidado, detêm o maior número de matrículas, 64%, entre os alunos com necessidades especiais. O Colégio Friburgo, em São Paulo, é um exemplo de inclusão com sucesso. "A grande diferença é que pensamos mais de uma vez numa mesma atividade, observando-a sob ângulos diferentes. Isso beneficia todos", afirma a coordenadora pedagógica Amélia Gaulez. Na Escola Viva, em Cotia (SP), já aconteceu de a professora montar um globo com papel de texturas diferentes, uma para cada um dos cinco continentes, a fim de atender a uma deficiente visual. "Os demais alunos acabam desenvolvendo a parte sensorial, pouco explorada em outros colégios", explica a psicopedagoga Melissa Isler, sócia da escola. Os alunos com deficiência intelectual absorvem o que está dentro das suas possibilidades. A avaliação, por exemplo, pode ser feita oralmente, pois a escrita é um obstáculo. "O importante é apresentar uma evolução", acrescenta ela.

"O convívio com o diferente traz ganhos hoje e no futuro. Ensina respeito e flexibilidade".


Liliane Garcez

As medidas que abriram o caminho para a nova lei

1994: declaração de Salamanca, resultado da Conferência Mundial sobre as Necessidades Educativas Especiais, evento promovido pela Unesco na Espanha. O documento reafirma o compromisso da educação para todos.

2003: surge no Brasil o Programa Educação Inclusiva, que incendiou a discussão sobre necessidades especiais e criou polos de disseminação em 162 municípios.

2006: a ONU aprova a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Embora sem força legal, o documento influenciou políticas públicas no mundo todo.

2008: promulgado no Brasil o decreto nº 6.571, que reestrutura a educação especial e obriga as escolas a matricular as crianças com deficiência em classes comuns do ensino regular.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Surdo quer escola própria

matéria publicada no caderno equílibrio do Jornal Folha de São Paulo de 24 de setembro de 2009.


Para estimular os surdos a assumir sua condição e para combater a discriminação, surgiu nos Estados Unidos, no começo da década de 1990, um movimento conhecido como Orgulho Surdo. Os integrantes -principalmente pessoas que falam línguas de sinais, frequentam escolas para surdos, são parentes ou intérpretes- defendem que a surdez seja encarada como uma experiência diferente, não como deficiência.
No Brasil, embora o movimento não exista oficialmente, escolas e associações de surdos reivindicam o direito de essas pessoas serem alfabetizadas primeiro em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e depois em português.
"Somente assim podemos ter pleno entendimento de um mundo que não ouvimos", afirma Paullo Vieira, presidente da Associação dos Surdos de São Paulo.
No próximo sábado, dia 26, às 12h, uma passeata sairá do Masp, em São Paulo, para divulgar as reivindicações da comunidade, como o direito de optar por uma escola para surdos. "Ainda não estamos preparados para que a inclusão seja imposta na parte educacional", diz Vieira. Na data, comemora-se o Dia do Surdo.


depoimento

matéria publicada no caderno equilíbrio do jornal Folha de São Paulo de 24 de setembro de 2009.


"Tive que me virar"

JAIRO MARQUES
COORDENADOR-ASSISTENTE DA AGÊNCIA FOLHA

Lá em casa, a regra sempre foi conviver com a molecada, me sentir igual aos outros, aprender a me virar e a me preparar para o mundo mesmo sendo ele bem despreparado para mim, como é até hoje.
Apesar de a minha mãe ter as preocupações básicas de criar uma criança com deficiência, fui incentivado a criar meios de ser independente, de encarar os desafios da falta de acessibilidade e de me preparar para fazer com que o meu caráter se impusesse ao meu aspecto físico.
Nem após as cirurgias necessárias para minimizar os reflexos da paralisia infantil -fui vítima dela aos nove meses-, eu recebia proteção excessiva. Matar aulas porque estava usando gesso ortopédico, nem pensar. Era necessário me reabilitar, mas isso nunca foi justificativa para deixar meu preparo de vida para trás.
Poucas vezes escutava de algum parente: "Você não pode ir porque lá é cheio de escadas e você não vai se dar bem". Mas foram vários os incentivos do tipo: "Vai que, com jeitinho, você consegue. Se não der certo, você tentou".
Claro que encarar as limitações, sobretudo as severas, é um processo que gera desconforto, e nenhuma mãe quer que o filho seja vítima de preconceito ou passe por empecilhos.
Contudo, a proteção não pode ocultar a realidade a ser enfrentada. Aprender a se virar na infância pode garantir uma vida adulta com mais desenvoltura, sem que nos achem cheios de melindres.


Jairo Marques é cadeirante e autor do bloghttp://assimcomovoce.folha.blog.com.br

o dilema dos pais

reportagem publicada no caderno equilíbrio do Jornal Folha de São Paulo de 24 de setembro de 2009.

Livres, leves e soltos

Incentivar que o filho supere seus limites ou protegê-lo de dificuldades? Especialistas e pais comentam os dilemas de criar uma criança com deficiência

Caio Guatelli/Folha Imagem
Anderson, André e Alexandre Nascimento, com a mãe, Doralice; eles aprenderam a andar de bicicleta apesar de terem nascido cegos

RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na cinebiografia do cantor e pianista Ray Charles, lançada em 2004, uma das cenas mais comoventes tem início com o músico, ainda menino, tropeçando em uma cadeira e se estatelando no chão de casa.
Ele havia perdido a visão pouco antes desse episódio e, assustado, grita por socorro. Da cozinha, a mãe assiste ao incidente e tem um impulso de ajudá-lo, mas refreia-se. Decide observá-lo, em silêncio, para saber se o garoto consegue lidar com sua nova condição.
O dilema que a atriz Sharon Warren representa na tela é o mesmo que pais e mães de crianças e adolescentes com alguma deficiência sensorial ou motora enfrentam em seu dia a dia: incentivar que o filho supere seus limites a fim de crescer em relativa igualdade com seus pares ou poupá-lo de frustrações e agir de forma a atenuar os obstáculos que, devido à deficiência, são mais difíceis para ele do que para os demais.
Doralice da Silva Nascimento, 45, mãe de Anderson, 25, Alexandre, 23, e André, 19, que nasceram cegos, passou por essas duas situações: superprotegeu o primogênito por não aceitar o problema de início, mas mudou de atitude quando os outros filhos nasceram, também sem enxergar.
"Quando soube que o Alexandre era cego, procurei ajuda em uma escola especializada. Passei a aceitar a condição deles e a entender que precisavam aprender a se virar sozinhos, pois eu não poderia ajudá-los para sempre", diz.
Nascidos no interior de São Paulo, os três foram criados com autorização para subir em árvores, brincar de pega-pega e jogar bola. "Minha mãe embrulhava a bola em um saco plástico para que pudéssemos saber onde ela estava", conta Alexandre. Aprenderam até a andar de bicicleta e a cavalo.
Quando os três filhos saíram sozinhos pela primeira vez, Doralice os seguiu sem que eles soubessem. "Foi terrível deixá-los andar sozinhos. Várias vezes eu os via em situação de perigo e tinha vontade de gritar para eles tomarem cuidado, mas não podia reagir para não atrapalhá-los", recorda-se.
Hoje, os irmãos usam transporte público, viajam sozinhos, fazem faculdade de gestão de RH e são medalhistas em atletismo. "Graças à minha mãe, somos totalmente independentes. Fazemos qualquer coisa, como qualquer pessoa", diz Alexandre.

Equilíbrio
Segundo a psicóloga e psicanalista Ana Cristina Marzolla, professora da PUC-SP, a maneira como os pais encaram a condição do filho depende de uma série de fatores, como o tipo e o grau de limitação da criança, a estrutura familiar, a relação do casal e a personalidade de cada um deles. "E esse comportamento não é estanque, ele muda com o tempo."
O psicólogo Roberto Benedito de Paiva e Silva, do Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação da Unicamp, acredita que os pais devem ter uma visão real das limitações. "A criança precisa de estimulação e de recursos que facilitem sua vida, mas tem que aprender a conviver com o mundo com naturalidade."
Na prática, isso nem sempre acontece. Não é difícil encontrar pais que protegem seus filhos com deficiência além do que seria recomendado. Em parte, segundo Marzolla, essa atitude se deve ao fato de eles projetarem no filho sua própria fragilidade diante da situação, à culpa que sentem por terem gerado um filho com deficiência -ou por não terem conseguido evitá-la- e aos sentimentos ambivalentes, de amor e de rejeição, em relação à criança.
Para Ana Cristina Marzolla, a superproteção faz com que a criança tenha uma autoimagem de fragilidade, impede-a de conhecer seus recursos e cria dificuldade para lidar com a frustração. "Isso ocorre também com filhos não deficientes, mas uma criança com deficiência fisica, dependendo do grau de superproteção, pode não desenvolver toda a sua capacidade cognitiva", alerta.
Na opinião do psiquiatra Geraldo Possendoro, professor do curso de atualização de Medicina Comportamental da Unifesp, o equilíbrio é fundamental e pode ser buscado com a ajuda de especialistas. "Deve-se procurar, o tempo todo, um balanceamento entre ajudar a criança em coisas que ela não consegue fazer sozinha e estimulá-la a resolver as outras. É preciso bom senso, o máximo de orientação técnica e flexibilidade", acredita.

Paralisia
Quando a pesquisadora Denise Crispim, 30, ouviu pela primeira vez de um médico que sua filha, Sofia, então com um ano, tinha paralisia cerebral, levou um susto. "Eu não acreditei. Pensava que ela era mais molinha por ser prematura."
Durante três meses, procurou diversos neurologistas até encontrar um de sua confiança. "As primeiras notícias são muito complicadas. O primeiro instinto é correr atrás de médicos para ouvir algo mais animador, uma espécie de cura", afirma.
Hoje, aos quatro anos de idade, Sofia frequenta uma creche municipal em Osasco, onde mora, e faz 12 sessões semanais de terapia -como fisioterapia, musicoterapia e hidroterapia. Fala, senta sozinha e consegue ficar em pé com apoio, enquanto aguarda a chegada de sua primeira cadeira de rodas -roxa, como ela gosta.
No dia da entrevista, Sofia estava proibida de assistir ao seu desenho favorito. O castigo veio porque a menina havia se recusado a fazer fisioterapia. "Isso já tinha acontecido antes, mas ela havia melhorado. Tenho que usar todos os recursos para convencê-la", diz a mãe.
Conscientemente, Denise procura educar a única filha para que ela tenha uma vida normal. "Tento dar uma educação que lhe permita ser independente e lidar com seus limites", diz. "Mas existem momentos em que o instinto de proteção é mais forte. Sei que ela não tem as defesas de crianças da mesma idade", justifica.
Festas infantis e passeios organizados pela escola, que incluem brincadeiras das quais a menina não consegue participar, são atividades que costumam ser evitadas. "Tento defendê-la do risco físico e também da parte emocional, evitando situações que possam causar sofrimento", afirma.
Para a psicóloga Ana Cristina Marzolla, em situações como essa uma possibilidade é a mãe ou o pai levar a criança ao passeio e intermediar o contato com as outras crianças. "Deixá-la em casa significa excluí-la."

Negação
Uma espécie de avesso da superproteção, a negação é outra maneira que os pais encontram para lidar com o diagnóstico de deficiência. "Alguns podem fazer de conta que está tudo normal e, com isso, não conseguem atender às necessidades específicas da criança", afirma a psicóloga da PUC-SP.
Segundo ela, muitos deles, de maneira consciente, incentivam o filho a se virar sozinho. "Aqueles que deliberadamente criam o filho para ser totalmente independente causam um ônus porque são muito exigentes, tratam-no como se ele não tivesse a deficiência. Os filhos se desenvolvem bem, mas se preocupam muito em ser aceitos", explica.
Mãe de João Lucas, 6, que ficou paraplégico devido a um tumor congênito que comprimiu sua medula, a advogada Adriana Dutra, 33, afirma que sempre procurou criar o menino com liberdade. Ele frequenta uma escola de esportes com crianças da mesma faixa etária e passou as últimas férias em uma colônia -em ambos os lugares, não havia outras crianças com deficiência. "Já que a situação dele é essa, dou a maior independência possível para ele ter qualidade de vida", diz.
Assim como João Lucas, o adolescente Gabriel do Rosário Mendes, 14, foi educado para ser como as outras crianças. Até os quatro anos, ele não falava nem sentava. Sua mãe, a recepcionista Ágda do Rosário Mendes, 40, deixou o trabalho de lado para levá-lo a sessões de terapia que tomavam praticamente o dia inteiro.
No fim da tarde, ela não abria mão, no entanto, de levá-lo com as irmãs mais velhas à pracinha próxima de casa. "Eu o colocava no balanço, no escorregador. Fazia de tudo para ele acompanhar e não se sentir diferente", recorda-se a mãe. Até na aula de judô Ágda o matriculou. "A fisioterapeuta não queria porque tinha medo de que ele caísse e se machucasse, mas deixei porque era uma alegria para ele", diz.
Nas horas vagas -o menino estuda e faz tratamento na Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais)-, o único passeio que a mãe desautoriza é ir ao parque de diversões. O medo que ela sente e que impede o menino de ir a esses locais vem da época em que Gabriel sofria convulsões -oito anos atrás-, o que teria levado o neurologista a proibir esse tipo de brincadeira. "Ele me cobra até hoje", diz a mãe.

Mudança gradual
A família de Francisco Marotto Avelaneda, 17, descobriu que ele sofre de uma síndrome genética que causa a perda de movimentos há quatro anos.
"Em seis meses, ele passou para a cadeira de rodas e foi se despedindo de coisas como jogar bola e andar de bicicleta", afirma o pai, o publicitário Norberto Avelaneda, 54. No início, como o prognóstico era ruim -"O médico disse para deixarmos ele viver seus 13 anos porque não sabia quanto tempo ele teria", lembra-se- , a família chegou a mimá-lo em alguns aspectos, mas não cerceou sua liberdade. "De manhã, eu o levo para a escola porque cansa muito e é cedo, mas ele volta sozinho, de cadeira de rodas motorizada. Demora 30 minutos", diz o pai.
Quando Francisco não está estudando ou em atividade na Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência) e deseja passear, os pais avaliam com ele o trajeto a ser percorrido. "Aos poucos, estamos liberando. Sempre evitamos superprotegê-lo. Na equoterapia, por exemplo, ele anda sozinho e já caiu duas vezes."
Para o adolescente, no entanto, as coisas seriam diferentes se ele não tivesse essa síndrome. "Eu não precisaria avisar se cheguei ou se vou sair. E meus pais me tratariam como tratam meus irmãos [de 20 e 22 anos]."
O pai admite que a percepção do garoto está correta. "O Francisco não tem muita saída se acontecer algo com a cadeira na rua porque não tem força nos braços, o que não acontece com os irmãos."


Colaborou FERNANDA BASSETTE , da Reportagem Local

A Realidade Virtual como Proposta de Ensino-Aprendizagem de Matematica para Deficientes Auditivos

No atual desenvolvimento da informática, a Realidade Virtual (RV) surgiu como uma tecnologia avançada de interface entre o usuário e o computador, enfatizando características como utilização de dispositivos multi-sensoriais, navegação em espaços tridimensionais, imersão no contexto da aplicação, simulação de ambientes, e interação em tempo real.

Tanto a idéia de imersão quanto de envolvimento, despertaram grande interesse dos pesquisadores em educação, e uma exigência de resposta rápida de escolas e centros de educação especial, que deverão viabilizar esta tecnologia para novas propostas de ensino-aprendizagem para deficientes, pois as duas idéias introduzem a motivação necessária para a aprendizagem de geometria para os deficientes auditivos e para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos e afetivos.

Realidade Virtual na Educação de Deficientes Auditivos

Necessitando o surdo desenvolver suas operações cognitivas, e sabendo-se da importância da comunicação com a Língua de Sinais, para que isto ocorra, percebe-se a grande dificuldade que se interpõe no processo de ensino-aprendizagem desta população. Esta dificuldade aumenta em função dos níveis de perda auditiva: quanto maior a surdez maior a dificuldade de integração num processo de ensino-aprendizagem de uma escola regular. A importância do uso da Língua de Sinais na comunicação com pessoas surdas, se deve em função do maior desenvolvimento dos canais visos-gestuais.

O uso da RV imersiva e não imersiva na educação de surdos para o desenvolvimento da Língua de Sinais ainda não foi devidamente explorado. Algumas pesquisas demonstram a diferença que o uso da RV pode trazer para o aprendizado de estudantes, com maiores habilidade visuais/cinestésicas. Sendo assim, os deficientes surdos poderão beneficiar-se desta tecnologia, pois, permitirá o acesso as imagens e as informações verbais-escritas, com o poder de manuseá-las.

A proposta de ensino-aprendizagem visa a estruturação de um sistema de software para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos e afetivos dos deficientes surdos, baseando-se nas teorias da geometria espacial, utilizando-se dos sistemas de RV.

Para quem quer saber mais sobre software desenvolvidos para educação dos surdos, visite:

http://www.c5.cl/ieinvestiga/actas/ribie98/197.html