O que diferencia o ser humano de outros animais é a extraordinária capacidade para operar com símbolos na sua comunicação. Diferentemente dos animais que se adaptam a uma situação concreta, presente, e geralmente de efeito imediato, o homem desenvolve uma linguagem simbólica complexa e abstrata que permite formas cada vez mais sofisticadas de conhecimento do mundo, de nós mesmos, da vida e de nossos semelhantes. Geralmente, um indivíduo adquire o repertório simbólico de seu grupo cultural, mas, por diferentes razões, o desenvolvimento da comunicação simbólica pode sofrer atrasos.
Essa é a temática do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino (INCTCCE), com sede na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Coordenado pela psicóloga e pesquisadora do CNPq, Deisy de Souza, o Instituto estuda o comportamento simbólico, dos seus processos básicos até os mais complexos. Seu principal foco é produzir conhecimento e desenvolver tecnologias para planejar intervenções, com o intuito de lidar com os déficits, tanto na remediação quanto na sua prevenção.
Uma ajuda para adaptação
O comportamento de pessoas com dificuldades de desenvolvimento comunicativo, como crianças com dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita, é estudado para se entender os possíveis fatores responsáveis pelos déficits e desenvolver condições especiais necessárias para que essas pessoas consigam desenvolver a comunicação simbólica.
Segundo a pesquisadora, uma parcela considerável de pessoas apresenta déficits na aquisição de linguagem falada, como ocorre no autismo, na surdez ocorrida antes da aquisição de linguagem e no retardo do desenvolvimento por diferentes causas, como ambientes empobrecidos, distúrbios neurológicos e genéticos.
“Na esfera da comunicação humana, déficits na aprendizagem simbólica não são raros e têm sérias implicações para a vida do indivíduo e dos que com ele convivem. Qualquer que seja a causa, a abordagem primária à prevenção ou remediação de déficits no funcionamento simbólico é a intervenção comportamental e o fortalecimento do suporte educacional. Dependendo da natureza e extensão dos déficits, eles caracterizam graves problemas sociais”, afirma Deisy.
De acordo com a coordenadora, as atividades do Instituto incluem estudos do processamento de informação auditiva e visual em tarefas simbólicas, de métodos efetivos para direcionar a atenção a informações e tarefas relevantes. Os métodos e as descobertas desses estudos servem para direcionar os projetos de Pesquisa Translacional que investigam o desenvolvimento do comportamento simbólico em bebês e crianças, a percepção de fala e funcionamento simbólico de crianças previamente surdas que passaram recentemente a usuárias de implante coclear.
Outro trabalho realizado é o desenvolvimento de habilidades acadêmicas, incluindo linguagem nativa, linguagem de sinais, linguagem matemática e linguagem musical, em crianças com dificuldades de aprendizagem. Segundo o psicólogo e vice-coordenador do Instituto, Olavo de Faria Galvão, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a habilidade no emprego de tecnologias de informação modernas e o seu desenvolvimento constituem uma alta prioridade para os programas de ciência aplicada do Instituto.
“Estamos desenvolvendo procedimentos informatizados para o gerenciamento de procedimentos e programas de ensino de leitura e escrita, que poderão ser disponibilizados diretamente a escolas ou por meio de prefeituras e secretarias de educação. Nosso centro apresenta um grande potencial para se tornar um modelo para o desenvolvimento de colaboração internacional, uma vez que incorporou diferentes pontos fortes do sistema brasileiro e do norte-americano, de uma maneira que permite que pesquisadores inseridos nos dois sistemas operem mais eficientemente do que em cada um isoladamente”, declara o vice-coordenador.
Além da UFSCar, seis outras instituições nacionais e uma estrangeira participam do grupo de pesquisa sobre comportamento simbólico: Universidade de São Paulo (USP), com dois laboratórios, um em São Paulo e um em Bauru, Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho (UNESP), com um laboratório em Bauru e outro em Marilia, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) e University of Massachusetts Medical School (UMASS), nos EUA.
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